Você sofre de lombalgia?

Escrito por: Silvia Guedes Ballesteros, fisioterapeuta especialista em Fisioterapia Esportiva, Osteopata e praticante de atividade física como filosofia de vida

 

VOCÊ SOFRE DE LOMBALGIA?

 

É difícil encontrar alguém que nunca teve dor na região lombar. Muitas vezes ela veio e logo passou, em outras se tornou crônica e de difícil solução. As causas são inúmeras, tudo junto e misturado, e algumas coisas são muito importantes de serem sabidas para se tentar acabar de vez com ela.

 

Nosso corpo está em constante busca do seu equilíbrio, e a dor vem como forma de proteção, mostrando que alguma coisa fugiu do controle dessa busca pela “homeostase”. Uma lombalgia aguda pode vir de algum excesso de exercício, por exemplo, mas por trás disso existiam outras variáveis que estavam “contribuindo” para uma fragilidade, e o excesso foi a gota d’água. Muitas vezes nosso próprio organismo vai dar conta dela, ou com algumas poucas sessões de fisioterapia, buscando as possíveis variáveis envolvidas e um tratamento eficaz, ela vai embora e não te incomoda mais. 

 

Mas quando ela se torna crônica, ou seja, ela te incomoda há mais de 3 meses e você tem episódios recorrentes de pioras ou crises, a coisa muda de figura. Os nociceptores – terminações nervosas livres que enviam mensagens para o cérebro que são interpretadas como dor – podem estar hipersensíveis e diminuem o seu limiar de dor, fazendo com que você sinta dor em situações que normalmente não sentiria. As modulações e a percepção de dor pelo seu cérebro também estão alteradas, e com isso ocorre uma hiperexcitação cerebral, que pode interferir em diversos sistemas do organismo.

 

Isso explica por que muitas vezes as pessoas têm medo de se movimentar e se limitam cada vez mais, achando que sua coluna é frágil, e ao mesmo tempo rígida. Essa sensação de rigidez muitas vezes é criada, ou reforçada, pelo seu cérebro, como uma maneira de te proteger por ter uma “memória” de um movimento que desencadeou sua última crise, por exemplo. Com isso, a percepção que você tem em relação à sua coluna muitas vezes não é real, e uma coisa importante para o tratamento é alterar essa informação no seu cérebro, se movimentando e assim ir acabando aos poucos com essa memória. A fáscia toracolombar, um “arcabouço” de tecido conjuntivo que ajuda a dar sustentação e fazer a transmissão de forças entre os membros superiores e inferiores, geralmente está mais tensa em pacientes com dor crônica, pelo alto número de receptores que possui e por sua sensibilidade a qualquer tipo de stress, dos mecânicos aos emocionais, e deve ser muito lembrada na reabilitação.

 

A idéia de a coluna ser frágil parece ter sido muito tempo sustentada até por profissionais da área, mas na verdade sua coluna não é frágil, e tirando algumas poucas exceções, ela não vai ser um fator limitante para você fazer o que gosta. Um exemplo é um artigo publicado em 2017 pela revista Nature, que mostra que a corrida, ao contrário do que se imagina, é benéfica para a coluna e para os discos intervertebrais, fortalecendo-os. Claro que você não deve sair para correr quando estiver em uma crise, mas você ter uma Ressonância Magnética que aponta uma ou 2 protusões ou hérnias discais não podem te limitar a não correr nunca mais. 

 

Por falar em exames, o que se estuda hoje é que os achados nos exames de imagem muitas vezes não estão relacionados com os sintomas do paciente. Além disso, o exame com alterações (muitas vezes esperadas para a idade) podem potencializar a dor e sensação de incapacidade.  Eles são muito necessários em algumas situações de exclusão de alguns diagnósticos importantes, devendo ser bem indicados pelo profissional.

 

Algumas alterações prévias do organismo que podem se relacionar com uma lombalgia crônica e muitas vezes não são sabidas pelas pessoas são: uma diminuição da mobilidade visceral, disfunções crônicas como constipação intestinal, por exemplo, uma abdominoplastia prévia e até uma cicatriz de cesariana antiga. Isso tudo deve ser avaliado pelo fisioterapeuta e este deve analisar as possíveis interferências. 

 

Finalizando, se eu pudesse dar apenas uma dica, ela seria: movimente-se. Os benefícios da atividade física e de uma vida ativa para uma dor crônica são inúmeros, como: aumentar o limiar de dor, liberação de opióides naturais (reduzindo o uso de medicamentos), melhora da densificação das fáscias, melhora do humor e da vontade de se tornar cada vez mais ativo.